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Recapturar o disco articular ou reposicionar o côndilo mandibular?
Que tal repensar o conceito como recuperação da relação fisiológica da cabeça da mandíbula com o disco articular, QUANDO POSSIVEL!
E quando não é possível? Qual ó o diagnóstico diferencial? O QUE PODEMOS OFERECER PARA OS NOSSOS PACIENTES?
Que tipo de órtese ou dispositivo intraoral utilizar? Qual é o objetivo de uma órtese em um tratamento de Patologia da ATM? Reposicionar a mandíbula? Recapturar os discos articulares? É sempre possível? DEPENDE DO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL!
Tem modificações das estruturas articulares da articulação temporomandibular?
Tem distorções na postura horizontal, vertical e transversal do complexo craniomandibular?
Como estão os ossos?
Como está a cartilagem?
Como está o disco articular?
Como estão os músculos neste sistema?
Como está a coluna cervical em relação a todo o sistema?
Como está a relação da coluna vertebral com as outras partes do sistema?
Como está o sistema miofuncional orofacial?
Os dentes, as duas articulações temporomandibulares e a musculatura postural são partes do mesmo osso, a mandíbula. Eles estão profundamente inter-relacionados e interdependentes em crescimento, forma e função. Uma anormalidade em uma destas partes, afeta profundamente as outras.
Paciente de sexo feminino com 30 anos de idade se apresenta na clínica com histórico de dor de cabeça, dor na frente, dor e rigidez na nuca, dor na sobrancelha esquerda, dor atrás do olho direito, dor no ombro direito. A paciente relata dor na ATM, (articulação temporomandibular) do lado direito.
A paciente relata crepitação bilateral, dor facial inespecífico, tremor muscular, dificuldade para abrir a boca, dificuldade na mastigação e travamento mandibular.
Relato resumido escrito pela paciente
Não me recordo de alguma queda brusca onde pudesse ter havido algum tipo de lesão.
Aos 6 anos de idade fui ginasta. Sempre tive quedas, de frente, costas e de cabeça. Mas no piso havia proteções.
Próximo aos 8 anos de idade, arranquei um molar do lado esquerdo inferior. Penso que, a partir disto, sempre forcei mais a mastigação do lado direito.
Com aproximados 13/14 anos de idade, lembro-me de começar os estalos do lado direito. Neste lado eu tinha mordida cruzada e um canino de leite que “mordia” atrás do dente de baixo.
Nesta fase, os estalos se tornaram mais frequentes, causando um pouco de dificuldade para abrir totalmente a boca. Ex: Quando tentava abrir a boca sem o estalo, a abertura fica menor do que após o estalo. Ou seja, se não faço o “jogo” com o maxilar, a boca não abre totalmente.
Em 2004 tive o primeiro “travamento”. Lembro-me de ser inverno e eu estar com frio. Fui fazer o “jogo” do maxilar e não consegui abrir a boca. Então forcei para abrir a boca e deu um estalo forte seguido de dor na região óssea do ouvido/nariz. A impressão é que havia deslocado algum osso/nervo.
A partir deste episódio, sempre que forço mais a região, acontece o travamento. Ex: quando como carnes, bala, amendoim. Coisas que preciso forçar mais a mastigação.
Em 2008 coloquei aparelho ortodôntico para fazer as correções. No tratamento, fiz um processo de espaçamento dos dentes, com um aparelho no céu da boca para abrir a arcada. Fiquei com os dentes separados um tempo.
Depois de terminado o tratamento, corrigido os dentes, os estalos voltaram mais leves. Aproximado 1 ano depois, voltou o travamento também. COMECEI COM DORES DE CABEÇA E CERVICAL. SENTIA LEVES FORMIGAMENTOS NA CABEÇA.
Em 2015 comecei a ouvir um tipo de “areia” do lado esquerdo. Em seguida engravidei e neste período começou os estalos também do lado esquerdo. Em Fevereiro de 2017 tive o primeiro “travamento” do lado esquerdo.
Agora quando sinto o travamento, procuro relaxar bem a musculatura, deixando o maxilar solto alguns minutos. As vezes volta ao normal assim mesmo, outras vezes tenho que forçar com a abertura da boca, causando um forte estalo.
Informações atuais:
Quando fecho a boca, sinto meu maxilar se posicionar de leve para trás, para “casar” a mordida. Para ficar com a boca “solta” e confortável, tenho que estalar os dois lados, e deixar o maxilar solto.
Quando tento abrir a boca sem os estalos, a abertura fica menor do que após o estalo. Ou seja, se não faço o “jogo” com o maxilar, a boca não abre totalmente.
Os travamentos geralmente ocorrem:
– Bocejos;
– Pela manhã (desperto com o maxilar travado);
– Comendo carnes.
TC: Parte do estudo inicial da paciente enviado antes da consulta, solicitado por outro profissional.
A anamnese e o exame clínico são uma parte fundamental no diagnóstico do paciente que apresenta patologia da ATM.
A tomografia computadorizada é uma excelente imagem, mas quando tratamos uma articulação sinovial em um paciente com patologias da ATM, a tomografia NÃO NOS OFERECE AS INFORMAÇÕES DOS TECIDOS MOLES.
A Ressonância Nuclear Magnética (RNM) pode dar muitas informações e não apenas a posição do disco. É fundamental ter o conhecimento para SABER O QUE FAZER COM ESSA INFORMAÇÃO.
Não podemos tratar um paciente com necrose na cabeça da mandíbula ou com edema medular ou artrose ou artrite reumatoide ou lúpus da mesma forma que tratamos outro paciente apenas com uma posição errada da mandíbula.
As articulações temporomandibular de todos esses pacientes precisam ser descomprimidas, mas isso é apenas uma parte do problema.
Oclusão habitual da paciente no dia da consulta.
Vista oclusal superior e inferior da paciente no dia da consulta.
Observa-se fio metálico de contenção de tratamento ortodôntico entre os caninos inferiores direito e esquerdo.
Radiografia panorâmica inicial da paciente antes do tratamento.
Observa-se fio metálico de contenção de tratamento ortodôntico entre os caninos inferiores direito e esquerdo.
A laminografia das articulações temporomandibulares mostra uma modificação do eixo de crescimento dos côndilos mandibulares em ambos, direito e esquerdo provocado por um traumatismo na primeira infância, (fratura em talo verde).
Retroposição de ambas as cabeças mandibulares nas fossas articulares.
Laminografia da ATM em oclusão habitual e com a boca aberta.
Assimetrias tridimensionais na cabeça da mandíbula podem ter sido causadas
por diferentes etiologias e causar patologias morfofuncionais.
As alterações na orientação da cabeça da mandíbula ocorrem em pacientes que sofreram golpes na região do queixo, sejam anteroposteriores, verticais ou laterais.
Nós podemos observar nestes casos uma deformação da cabeça da mandíbula sob a forma de curvatura, com uma concavidade anterior, que, em alguns casos pode ser tão importante que produz uma compressão da região retrodiscal, causando sintomas graves.
Radiografia frontal da paciente em oclusão habitual antes do tratamento.
Observa-se fio metálico de contenção de tratamento ortodôntico entre os caninos inferiores direito e esquerdo.
Radiografia lateral da paciente em oclusão habitual antes do tratamento.
Radiografia lateral e da coluna cervical da paciente em oclusão habitual antes do tratamento. Nota-se a perda da lordose cervical, retificação da coluna cervical.
RNM: cortes sagitais da ATM esquerda em boca fechada antes do tratamento. Existe um anteroversão do côndilo mandibular. As cabeças mandibulares estão retroposicionadas.
O disco articular encontra-se deslocado anteriormente, com redução nas manobras em boca aberta.
Importante compressão retrodiscal.
RNM: cortes sagitais da ATM esquerda em boca fechada antes do tratamento. Existe um anteroversão do côndilo mandibular. As cabeças mandibulares estão retroposicionadas.
O disco articular encontra-se desocado anteriormente, com redução nas manobras em boca aberta.
Importante compressão retrodiscal.
RNM: cortes sagitais da ATM direita em boca fechada antes do tratamento. Existe um anteroversão do côndilo mandibular. As cabeças mandibulares estão retroposicionadas.
O disco articular encontra-se deslocado anteriormente, com redução nas manobras em boca aberta.
Importante compressão retrodiscal.
RNM: cortes sagitais da ATM direita em boca fechada antes do tratamento. Existe um anteroversão do côndilo mandibular. As cabeças mandibulares estão retroposicionadas.
O disco articular encontra-se deslocado anteriormente, com redução nas manobras em boca aberta.
Importante compressão retrodiscal.
RNM: cortes sagitais da ATM direita em boca fechada antes do tratamento. Existe um anteroversão do côndilo mandibular. As cabeças mandibulares estão retroposicionadas.
O disco articular encontra-se deslocado anteriormente, com redução nas manobras em boca aberta.
Importante compressão retrodiscal.
RNM: cortes frontais das articulações temporomandibulares direita e esquerda, boca fechada em oclusão habitual antes do tratamento.
O corte frontal da articulação temporomandibular direita e a esquerda evidenciam uma severa perda de espaço articular.
RNM: cortes sagitais da ATM direita e esquerda em boca aberta. Redução nas manobras do deslocamento do disco articular em boca aberta.
Registro eletromiográfico dinâmico da paciente em oclusão habitual, com rolo de algodão do lado direito (segunda coluna), com rolo de algodão lado esquerdo (terceira coluna) e com rolos de algodão em ambos os lados direito e esquerdo (quarta coluna). Note-se a melhora de recrutamento de unidades motoras na quarta coluna.
Para avaliar corretamente a relação maxilo-mandibular devemos começar a considerar a posição fisiológica de repouso mandibular.
Repouso fisiológico é um conceito aplicável para todos os músculos do corpo.
A musculatura estomatognática não é exceção.
Os músculos mastigatórios da paciente foram desprogramados eletronicamente e uma nova posição neurofisiológica de repouso foi registrada.
A paciente apresenta um espaço livre patológico de 6,4 mm.
A paciente tambem apresentava 0, 4 mm de retroposição mandibular.
Recalibração da posição neuromuscular fisiológica do DIO ( dispositivo intraoral)
Na primeira fase os dispositivos intraorais, são recalibrados e ou trocados de acordo a cada caso específico à medida que a mandíbula, músculos e ATM melhorem.
Oclusão do paciente com o DIO (dispositivo intraoral)
Com o registro obtido com o cineciógrafo computadorizado foi confeccionado um dispositivo intraoral (DIO) para reposicionar tridimensionalmente a mandíbula.
A posição NEUROMUSCULAR FISIOLÓGICA, foi gravada sob a forma de um registro de mordida oclusal, que mais tarde foi utilizado para fabricar um DIO ( dispositivo intraoral)
Na primeira fase os dispositivos intraorais, são recalibrados e ou trocados de acordo a cada caso específico à medida que a mandíbula, músculos e ATM melhorem.
Outro registro cineciográfico para controle do DIO ( dispositivo intraoral) em posição neuromuscular fisiológica à medida que o dispositivo é trocado ou recalibrado.
A paciente não relatou mais sintomatologia. Os registros eletromiográficos e cinesiográficos mostraram objetivamente a melhora da função neuromuscular.
Solicitei a segunda ressonancia nuclear magnética para avaliar objetivamente a relação fisiológica entre os condilos mandibulares e o disco articular.
RNM: Comparação do corte sagital da ATM esquerda, boca fechada, antes do tratamento neuromuscular fisiológico, e da mesma ATM esquerda, boca fechada, após A PRIMEIRA FASE do tratamento.
Recuperação da relação fisiológica da cabeça da mandíbula com o disco articular.
RNM: Comparação do corte sagital da ATM esquerda, boca fechada, antes do tratamento neuromuscular fisiológico, e da mesma ATM esquerda, boca fechada, após A PRIMEIRA FASE do tratamento.
Recuperação da relação fisiológica da cabeça da mandíbula com o disco articular.
RNM: Comparação do corte sagital da ATM esquerda, boca fechada, antes do tratamento neuromuscular fisiológico, e da mesma ATM esquerda, boca fechada, após A PRIMEIRA FASE do tratamento.
Recuperação da relação fisiológica da cabeça da mandíbula com o disco articular.
RNM: Comparação do corte sagital da ATM esquerda, boca fechada, antes do tratamento neuromuscular fisiológico, e da mesma ATM esquerda, boca fechada, após A PRIMEIRA FASE do tratamento.
Recuperação da relação fisiológica da cabeça da mandíbula com o disco articular.
RNM: Comparação do corte sagital da ATM direita, boca fechada, antes do tratamento neuromuscular fisiológico, e da mesma ATM direita, boca fechada, após A PRIMEIRA FASE do tratamento.
Recuperação da relação fisiológica da cabeça da mandíbula com o disco articular.
RNM: Comparação do corte sagital da ATM direita, boca fechada, antes do tratamento neuromuscular fisiológico, e da mesma ATM direita, boca fechada, após A PRIMEIRA FASE do tratamento.
Recuperação da relação fisiológica da cabeça da mandíbula com o disco articular.
RNM: Comparação do corte sagital da ATM direita, boca fechada, antes do tratamento neuromuscular fisiológico, e da mesma ATM direita, boca fechada, após A PRIMEIRA FASE do tratamento.
Recuperação da relação fisiológica da cabeça da mandíbula com o disco articular.
RNM: Comparação do corte sagital da ATM direita, boca fechada, antes do tratamento neuromuscular fisiológico, e da mesma ATM direita, boca fechada, após A PRIMEIRA FASE do tratamento.
Recuperação da relação fisiológica da cabeça da mandíbula com o disco articular.
RNM: Comparação do corte FRONTAL da ATM ESQUERDA, boca fechada, antes do tratamento neuromuscular fisiológico, e da mesma ATM ESQUERDA, boca fechada após a FINALIZAÇÃO DA PRIMEIRA FASE do tratamento.
Recuperação da relação fisiológica da cabeça da mandíbula com o disco articular.
RNM: Comparação do corte FRONTAL da ATM direita, boca fechada, antes do tratamento neuromuscular fisiológico, e da mesma ATM direita, boca fechada após a FINALIZAÇÃO DA PRIMEIRA FASE do tratamento.
Recuperação da relação fisiológica da cabeça da mandíbula com o disco articular.
A paciente não relatou mais sintomatologia. A RNM comparativa mostrou a Recuperação da relação fisiológica da cabeça da mandíbula com o disco articular.
Os registros eletromiográficos e cinesiográficos mostraram objetivamente a melhora da função neuromuscular.
Foi decidido iniciar a SEGUNDA FASE do tratamento para retirar o DIO (dispositivo intraoral), mantendo a oclusão neuromuscular fisiológica.
Para isso utilizamos uma ortodontia tridimensional, onde os dentes são erupcionados para a nova posição neuromuscular fisiológica.
Depoimento da paciente:
Minha primeira lembrança de travamento nas articulações foi aos 15 anos aproximadamente. Procurei especialistas em ortodontia, fiz os “ajustes” necessários, mas os travamentos e dores ainda continuavam.
Procurei a Dra. Lídia agora com 30 anos, pois outros especialistas me disseram que somente a cirurgia seria o possível em meu caso. E ainda sim, sem sabermos exatamente se teríamos sucesso.
Após iniciado a primeira fase de tratamento com o dispositivo, as dores cessaram e nunca mais tive os travamentos de mandíbula que tanto me apavoram.
Me adaptei muito fácil ao tratamento, fui e estou sendo muito disciplinada com o uso do aparelho.
Agora, como a Dra. Lídia me explicou, com os discos já no lugar certo, iremos passar para a segunda fase, para a retirada do aparelho.
Hoje estou tendo uma rotina sem a preocupação de que posso “travar” a qualquer momento.
Sou muito grata a Dra. Lidia.
Magnifico articulo de la Dra. Lidia Yavich! con su didactica inigualable sabe hacer las preguntas precisas para ir encontrando las respuestas a través de su metodologia de trabajo.
En este articulo en especial son excelentes las fotos de Resonancia Magnetica donde claramente se ve la restitución de los espacios funcionales de las articulaciones y la recaptación de los discos articulares.Una ORTOPEDIA con mayuscula !!
No podemos pensar la ortodoncia sin la ortopedia y esta debe realizarse con respeto y rigurosidad en el diagnóstico del estado morfofuncional de todos los componentes del sistema masticatorio.
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Gracias Isabel, es muy importante que la odontologia en general tenga conciencia de esto. Grande abrazo!
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Gostei do seu trabalho com o DIO para reposicionamento dos discos e, por conseguinte, da mandíbula, em posição neurofisiologica adequada. Onde você atende? Nos casos de paciente com mordida cruzada posterior, é possível utilizar o DIO antes para a correção da posição da ATM e depois ser feito o tratamento ortodôntico para a correção da arcada, ou necessariamente a arcada deve ser corrigida ortodônticamente antes e só depois utilizar o DIO?
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Cara Alisson a clínica é em Porto Alegre, sempre que o paciente tem uma patologia de ATM é a ATM que tem que ser tratada primeiro conjuntamente com a avaliação corporal total especialmente da Cervical. Cada caso é unico, mas o DIO não ímpede se os objetivos diagnósticos são alcanzados descruzar uma mordida com o DIO colocado.
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